martes, 9 de diciembre de 2008

Pérdida de anclaje en Straight-Wire y Edgewise


Avaliação da perda de ancoragem nas técnicas
Straight-Wire e Edgewise, em casos de extração
de primeiros pré-molares

Resumo
Este estudo avaliou o posicionamento ântero–posterior de coroa e raiz dos primeiros molares inferiores durante o tratamento ortodôntico, utilizando o arco lingual ou a PLA como acessório de ancoragem na técnica Straight-Wire, em comparação com casos tratados pela técnica Edgewise, sem a utilização do arco lingual. Dois grupos foram selecionados, ambos apresentando má-oclusão de Classe I, tratados com extração dos primeiros pré-molares superiores e inferiores. Foi utilizada uma amostra de 255 telerradiografias em norma lateral, de pacientes brasileiros, do sexo feminino e masculino, com média de idade de 13 anos e seis meses e com diferentes padrões de crescimento facial. Os reultados obtidos permitiram concluir que: 1. Do início do tratamento ao fim da fase de nivelamento, a perda de ancoragem coronária do primeiro molar inferior foi maior nos casos tratados com a técnica Straight-Wire; 2. Do fim da fase de nivelamento ao fim do tratamento, a perda de ancoragem coronária e radicular do primeiro molar inferior foi maior na técnica Edgewise; 3. Do início ao fim tratamento a perda de ancoragem radicular foi maior nos pacientes tratados com a técnica Edgewise.


Introdução
A literatura registra que Angle3 (1907) foi um dos pioneiros
nos estudos sobre ancoragem, e que Tweed26 (1936),
considerando a necessidade de extrações dentárias para
melhor harmonização entre bases ósseas e dentes, realizou
modificações na mecânica da técnica Edgewise, incluindo o
preparo de ancoragem. Nesta época, tornou-se ainda maior
a preocupação com a ancoragem para que os espaços obtidos
com as extrações fossem corretamente utilizados no
posicionamento dos dentes anteriores, resultando em perfis
harmoniosos.
Com o surgimento dos aparelhos pré-ajustados, graças
ao pioneirismo de Andrews2 (1976), e posteriores prescrições
propostas por diferentes autores9,14, ressurgiu a preocupação
com o controle de ancoragem.
De acordo com Roth22 (1976) ao apresentar suas modificações
no aparelho de Andrews, relatou que a aceitação das
facilidades técnicas propostas pelo novo aparelho por parte
dos ortodontistas foi imediata; entretanto, pesquisas científicas
comprovando a eficiência dos procedimentos biomecânicos,
especificamente em relação ao controle de ancoragem nos
casos tratados, ainda eram escassas.

Revisão da Literatura
Desde 1907, Angle3 descreveu cinco tipos distintos de
ancoragem: simples, estacionária, recíproca, intermaxilar e
occipital, sendo que a estacionária significava uma situação
de rigidez dos elementos de resistência. Ricketts et al20 (1983)
consideraram a variação da ancoragem em: máxima, quando
não se permite que os molares se desloquem anteriormente,
e mínima, na qual os molares podem assumir todo o espaço
da extração.
Angle3 (1907), obteve o controle tridimensional da movimentação
dentária e, ainda hoje, as técnicas mais modernas
respeitam os seus princípios básicos, com a utilização de arco
retangular, que promove este controle. Por outro lado, Begg4
(1956), assim como Kesling12 (1989), embasados no conceito
de forças leves e contínuas, desenvolveram técnicas aplicando
o conceito de ancoragem diferencial, com base na eficiência
da ancoragem estacionária de Angle3 (1907). Entretanto, este
conceito implicava no possível movimento dos dentes de
resistência. A ancoragem extrabucal representava, até então,
o exemplo de ancoragem ideal.
Tweed26 (1936), insatisfeito com seus resultados clínicos,
admitiu a possibilidade de extrações dos primeiros pré-molares
superiores e inferiores em seu planejamento ortodôntico.
Passou então a defender a necessidade do posicionamento dos
dentes em suas inclinações axiais corretas, revolucionando a
Ortodontia da época. Tweed27 (1941) idealizou, ainda, o preparo
de ancoragem inferior que posiciona os dentes de resistência
em uma situação mecanicamente favorável. Isso consiste
na inclinação das coroas dos dentes posteriores inferiores
para distal, sem que ocorra mesialização das raízes. Esses
movimentos dentários são obtidos por meio da incorporação
de dobras distais progressivas no arco ortodôntico inferior,
associadas ao uso de elásticos de Classe III. Para Holdaway10
(1952) o preparo de ancoragem seria obtido simultaneamente
à fase de nivelamento, com a angulação distoclusal dos braquetes
e dos tubos dos dentes posteriores. Ricketts18 (1976),
em sua técnica bioprogressiva, preconizou a movimentação
das raízes em direção ao osso cortical como forma de ancoragem.
Nance16 (1947) sugeriu que o arco lingual mantém
o perímetro do arco. Entretanto, Vigorito, Moresca30 (2002)
consideraram o arco lingual fixo como insatisfatório recurso
de ancoragem durante a fase de nivelamento, provavelmente
pela utilização de arcos retangulares termoativados.
Um outro recurso de ancoragem preconizado por
Renfroe17 (1956) foi a placa lábio-ativa, com a finalidade
de estabilizar os molares inferiores ou até distalizá-los por
meio da força da musculatura peribucal. Esse acessório foi
considerado um meio eficaz para impedir a mesialização
dos molares inferiores de acordo com Frediani, Scanavini7
(1981); Vigorito29 (1986); Bennett, McLaughlin5 (1990);
Almeida et al1 (1991).
Com o advento do aparelho pré-ajustado houve uma
transição da técnica Edgewise para técnica Straight-Wire,
e uma das primeiras diferenças que se tornaram aparentes
foi o controle de ancoragem. A mecânica de deslizamento,
para retração dos dentes anteriores, passou a ser adotada
(Andrews2, 1976; McLaughlin, Bennett14, 1989). Para tanto,
há uma força de resistência em conseqüência do atrito entre
o arco e o braquete. Para vencer essa resistência, forças
excessivas podem ser transmitidas aos dentes de ancoragem,
induzindo o movimento mesial dos dentes posteriores
(Taylor, Ison25, 1996).
Roth24 (1997), para diminuir a perda de ancoragem,
recomendou que as extrações fossem feitas antes do início
do nivelamento, para evitar maior vestibularização dos dentes
e permitir a ocupação parcial dos espaços das extrações
pelos caninos.

Proposição
A proposta deste trabalho foi comparar a perda de ancoragem
inferior nas técnicas Edgewise e Straight-Wire, por meio
da posição ântero-posterior dos primeiros molares inferiores,
nas diferentes fases de tratamento: do início do tratamento ao
fim da fase de nivelamento, do fim da fase de nivelamento ao
fim do tratamento, e do início ao fim do tratamento.

Material e Método
A amostra constituiu-se de 255 telerradiografias cefalométricas
laterais, obtidas de pacientes brasileiros, com
má-oclusão de Classe I de Angle3 (1907) e diferentes padrões
de crescimento facial, apresentando dentição permanente,
sem considerar a presença dos terceiros molares. Todos os
pacientes receberam tratamento ortodôntico com extrações
dos primeiros pré-molares superiores e inferiores no curso de
Pós-Graduação da Faculdade de Odontologia da Universidade
Metodista de São Paulo - Umesp.
Foram selecionadas inicialmente 40 documentações de
pacientes tratados com a técnica Edgewise, denominados
Grupo 1 e 45 com a técnica Straight-Wire, prescrição Roth23
(1987), denominados Grupo 2. De cada documentação
foram selecionadas as telerradiografias das seguintes fases
do tratamento: inicial, final de nivelamento e final de tratamento,
totalizando 255 telerradiografias, sendo 147 obtidas
de pacientes do sexo feminino e 108 de pacientes do sexo
masculino. O tempo médio de tratamento ortodôntico foi de
três anos e seis meses para os pacientes tratados com a técnica
Straight-Wire e três anos e quatro meses para os tratados com
a técnica Edgewise.
No Grupo 1, os aparelhos utilizados possuíam acessórios
com canaletas nas dimensões 0.018” x 0.028”, da marca 3M
Unitek, sem angulação e sem torque incorporados em sua
base, padrão Edgewise Standard, modelo mini dyna-lock.
Com a finalidade de promover o preparo de ancoragem
preconizado pela técnica, foram feitos os degraus distais (tip
back) no arco. A placa lábio-ativa (PLA) também foi utilizada
como recurso para preservar a ancoragem no arco inferior. No
Grupo 2, utilizou-se aparelhos de prescrição Roth23 (1987),
com acessórios da marca 3M Unitek, modelo Gemini, de
canaletas nas dimensões 0.022” x 0.028”, com torques e
angulações em suas bases. A esses pacientes foi adaptado o
arco lingual fixo, soldado as bandas dos primeiros molares
inferiores ou adaptada uma placa lábio-ativa e bandagem
nos segundos molares inferiores, como recurso para manter
a ancoragem inferior.
Para a realização do estudo cefalométrico utilizou-se
o programa Radiocef Studio28 (2000). As grandezas cefalométricas
utilizadas no estudo encontram-se ilustradas
na Figura 1. Na análise das alterações do posicionamento
dentário foram utilizadas as seguintes grandezas cefalométricas,
angulares e lineares, relacionadas com os primeiros
molares inferiores: ângulo Alfa (α): indica a inclinação
mesiodistal do primeiro molar inferior em relação ao plano
mandibular; distâncias: D6–K6 e R6–T6. Os tempos de
medição caracterizam as fases: inicial, final de nivelamento
e final de tratamento.
Para a verificação do erro do método, novos traçados
e remedições de 51 radiografias da amostra, aleatoriamente
escolhidas, foram executados três meses após a primeira
medição, representando 20% do tamanho da amostra.
Com o objetivo de verificar o erro sistemático intra-examinador
foi utilizado o teste “t” pareado. Na determinação
do erro casual utilizou-se o cálculo de erro proposto por
Dahlberg.
Para obtenção dos dados estatísticos, os pacientes foram
divididos de acordo com o índice Vert de Ricketts19 (1982) e
com o sexo. Na comparação das variações entre as três fases
de tratamento de um mesmo grupo (Técnica) de pacientes,
foi empregada a Análise de Variância a um critério para
medidas repetidas. Quando esta indicou diferença estatisticamente
significante foi utilizado o teste de Tukey para as
comparações múltiplas. Para verificar se a variação entre as
fases foi diferente, dependendo do grupo (técnicas Edgewise
e Straight-Wire), do padrão Vert19 (1982) (Dólico e Meso) e
do sexo (masculino e feminino), foi utilizada a Análise de
Variância a três critérios. Em todos os testes estatísticos foi
adotado nível de significância de 5%.

Resultados e Discussão
A perda de ancoragem foi avaliada no primeiro molar
inferior, com medições angulares e lineares. Foi avaliada
linearmente pela medida D6-K6. O Gráfico 1 evidencia que
a movimentação da coroa do molar inferior ocorreu de forma
diferente entre as técnicas. Na técnica Edgewise do início
ao final do nivelamento, a coroa do molar manteve-se mais
estável do que na técnica Straight-Wire, onde se observa maior
perda de ancoragem da coroa do molar nesta fase do tratamento.
Em ambas as técnicas houve, ao final do tratamento, perda
de ancoragem coronária do molar; porém, a diferença entre
as fases em que ocorreu a mesialização está provavelmente
fundamentada no preparo de ancoragem, realizado conforme
preconizado por Tweed27 (1941).
A posição da raiz do molar inferior foi avaliada linearmente
pela medida R6-T6. O Gráfico 2 evidencia que a
movimentação da raiz do molar inferior ocorreu de forma
semelhante entre as técnicas, sendo que, na de Edgewise,
a raiz do molar, no final do tratamento encontrou-se mais
mesializada que na técnica Straight-Wire.
Rizzatto21 (1977), em seu estudo, observou de modo
geral, que a perda de ancoragem foi maior na raiz do que na
coroa, encontrando correlação positiva entre a perda de ancoragem
nas raízes e coroas dos primeiros molares inferiores
na técnica Edgewise.
A inclinação mesiodistal do primeiro molar inferior em
relação ao plano mandibular foi avaliada pelo ângulo Alfa.
Este ângulo, na técnica Edgewise, variou com significância
estatística somente da fase inicial para o final de tratamento.
Na técnica Straight-Wire não ocorreu variação significante
entre as fases de tratamento. O Gráfico 3 evidencia a pequena
trajetória angular, sem significância, do molar inferior na
técnica Straight-Wire, e, na técnica Edgewise, a modificação
gradual da inclinação do molar inferior do início ao final do
tratamento ortodôntico.
Essa diferença de variação entre as fases de tratamento do
posicionamento angular do primeiro molar inferior pode se dar
primeiramente em função do preparo de ancoragem realizado
na técnica Edgewise e podemos atribuí-la, também, ao uso da
placa lábio-ativa como recurso de ancoragem utilizado nessa
técnica. Frediani, Scanavini7 (1981); Freitas8 (1982) avaliaram
o efeito do uso da placa lábio-ativa na técnica Edgewise e
concluíram que ocorreu inclinação distal da coroa do primeiro
molar inferior, concomitantemente a mesialização das raízes,
favorecendo, desta forma, a modificação gradual do ângulo
alfa ao longo do tratamento. Na técnica Straight-Wire o recurso
de ancoragem utilizado foi o arco lingual sugerido por
Nance16 (1947), visando manter o perímetro do arco, assim
como a migração para mesial dos molares inferiores. Esse
posicionamento angular pode ocorrer associado à prescrição
dos acessórios Straight-Wire, resultado da incorporação do
conceito de sobrecorreção preconizado por Roth23 (1987).
deste estudo, observou a perda de ancoragem da coroa do
primeiro molar inferior no grupo de pacientes tratados com
a técnica Straight-Wire durante a fase de nivelamento.
Considerando que a perda de ancoragem é mais intensa
durante a fase de retração, no período entre a etapa final de
tratamento e final de nivelamento seriam esperados valores
maiores com relação ao deslocamento do primeiro molar inferior
para mesial ao término do tratamento. Nesta pesquisa,
entre as etapas final de nivelamento e final de tratamento, as
variações da medida D6-K6, e as variações da medida R6-
T6, mostraram diferença estatisticamente significante entre
os grupos (técnicas Edgewise e Straight-Wire), conforme
demonstrado na Tabela 2. Ao se analisar as diferenças entre
as variações médias obtidas para as medidas D6-K6 e R6-T6
Esses resultados se assemelham aos obtidos por Missaka15
(2000), que observou o deslocamento do primeiro molar
inferior para mesial em casos tratados com extração de primeiros
pré-molares, com a técnica Straight-Wire; entretanto,
a perda de ancoragem foi observada do início ao término do
tratamento. Marzari13 (1998), utilizando a mesma metodologia
deste estudo, observou a perda de ancoragem da coroa do
primeiro molar inferior no grupo de pacientes tratados com
a técnica Straight-Wire durante a fase de nivelamento.

Considerando que a perda de ancoragem é mais intensa
durante a fase de retração, no período entre a etapa final de
tratamento e final de nivelamento seriam esperados valores
maiores com relação ao deslocamento do primeiro molar inferior
para mesial ao término do tratamento. Nesta pesquisa,
entre as etapas final de nivelamento e final de tratamento, as
variações da medida D6-K6, e as variações da medida R6-
T6, mostraram diferença estatisticamente significante entre
os grupos (técnicas Edgewise e Straight-Wire), conforme
demonstrado na Tabela 2. Ao se analisar as diferenças entre
as variações médias obtidas para as medidas D6-K6 e R6-T6
na técnica Edgewise e comparar com as mesmas grandezas
na técnica Straight-Wire, respectivamente, verifica-se o deslocamento
para mesial da coroa e da raiz do primeiro molar
inferior significantemente maior na técnica Edgewise. Este
resultado encontra-se também ilustrado no Gráfico 5

No período entre a etapa final de tratamento e inicial,
apenas a grandeza R6-T6, que traduz clinicamente a perda de
ancoragem radicular do primeiro molar inferior, demonstrou
no fator grupo (técnicas Edgewise e Straight-Wire) diferença
estatisticamente significante, conforme se vê na Tabela 3. O
ápice radicular, na técnica Edgewise, apresentou nesta etapa
uma maior variação da perda de ancoragem, estatisticamente
significante em comparação com os pacientes que foram
tratados com a técnica Straight-Wire. O Gráfico 6 também
ilustra esses resultados

Rizzatto21 (1977); Cipriano, Vigorito6 (1991); Kattner,
Schneider11 (1993) também observaram a perda de ancoragem
do primeiro molar inferior do início ao término do tratamento
ortodôntico. A avaliação da influência dos diferentes padrões
faciais na perda de ancoragem nas técnicas Edgewise e Straight-
Wire passou a ser, a partir dos resultados encontrados, um
novo alvo de estudo, considerando-se o aumento do número
dos indivíduos nestes grupos.
Conclusão
Os resultados permitiram concluir que: 1. Do início do
tratamento ao fim da fase de nivelamento, a perda de ancoragem
coronária do primeiro molar inferior foi maior nos
casos tratados com a técnica Straight-Wire; 2. Do fim da fase
de nivelamento ao fim do tratamento, a perda de ancoragem
coronária e radicular do primeiro molar inferior foi maior na
técnica Edgewise; 3. Do início ao fim tratamento a perda de
ancoragem radicular foi maior nos pacientes tratados com a
técnica Edgewise.

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